sexta-feira, 18 de junho de 2010

Em Quadro*

Prólogo
No paredão ela aguarda de costas
Suando mais de medo que de revolta
"Cadê o Bagulho e o revólver seu bosta?"
Recebe um tapa na cara por não ter resposta
O fardado, armado; nem é formado
Mas se diz a lei
E só age assim contra "Zés Ninguém"
"Cadê o bagulho e o revólver seu bosta?
Só tem marmita e uniforme nessa jossa?"
E ele de costas agora suando mais de revolta
Pensa antes de abrir a boca para dar a resposta
Pensa nas pessoas inocentes que foram mortas
Por não ter bagulho e revólver
Por só ter dignidade e o braço forte
De tanto pegar no cabo do Guatambú
Desde que era criança lá no norte
"Eu não tenho nada, Sinhô...
Mas tenho emprego...Trabalho prá Doutor!"

É lua cheia são quase quatro
Enquadro uma cena da janela do barraco
Humilhação, frustração, jogada ao relento
Angústia rancor e um vazio por dentro
E o pensamento demora a atinar
Quanto tempo mais a mente vai suportar
Um vento frio envolve a madrugada
Traz consigo algo que aumenta minha mágoa
Quem sabe a culpa é da beira do rio
Ou será que é porque tá curto o pavio
Mas ai, afinal a conta está correndo
Enquanto estouram champanhe eu destilo veneno
Uma mistura homogênea de cada porção
Dor, ódio, amor e uma oração
Pedindo ao céu que o santo me guie
Que a caminhada é cruel e quem é não finge
Aceita a chence e não amarela
Se envolve com a ação e vive por ela
Decepciono a contradição
Eu tenho consciência e to na missão
Firme idéia forte e não é poeira
O coração é corajoso e a alma verdadeira
Junto fatos idéias e vou além
Meu pensamento é vilão sou meu próprio refém
Taquicardia associada ao dia-dia
Sul-Americano sou da periferia
Quem dera pudera ver a resistência Tupac
Aliada a força de Zumbi dos Palmares
Infelizmente prá minha gente a diferença
Fortalece o domínio e a concorrencia
Dos USA que eu não sei o que significa
Uma palavra uma sigla outra lingua
No entanto mensagem entendo bem
O mundo aplaude não reage diz amém
Ploriferando a corrida armamentista
Teme o povo pobre Sandinista
Que não se integra(entrega) quebrando a regra
O caminho foi longo de Sandino à Ortega
Divisão virtual de bens em bancos
Passando fome nas favelas encontram se tantos
A mercê do clichê criação da mídia
Do espetáculo Fantástico distorcendo a vida
Quantos já foram e quantos mais inda irão
Até você ser o próximo da lista, então
A cena é triste o poeta disse
Outro mano subiu mas o restante persiste
Não sou um Tonto nem muito menos quero ser Zorro
Mas do fundo do poço ao Sendero Luminoso
Eu sou mais um pequeno grão de areia
Uma folha na contra mão da correnteza
Obstinado, indiguinado
Com o enquadro que vejo da janela do barraco.

Epílogo
"Doutor o caralho arrombado de bosta!!!
Tu tá é disbaratinando com essa mochila nas costas!
Steve!!! Grampeia que esse tá na roça!!!"
Nunca imaginou que era crime ser "Zé Ninguém"
Que na vida a gente ter que ser forte prá não
Ser mais uma baixa e ir pro além
Já o fardado, armado; parece drogrado
Bate no "Zé" de costas porque tem emprego
Mas vacila quando olha nos olhos dos criminosos
Na hora de fazer o acerto!"

Preto Soul
Baltazar Honório
Guinão Oliveira
Claudinho Oliveira

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